14.4.07

Das Esperas

Peneiras, by Alyne Costa 2007


Ora apresento-me numa fragilidade ambígua
Noutras me dispo e renasce uma víbora
E sem muitas profundezas, douro frases em cascatas
A plenitude das gueixas
O calafrio das mulatas
E atitudes, colho várias
Minha meiguice talhada a canivete
Minha doçura
Minha bandeira
Meu brinquedo antigo
Aquele amor guardado num lenço perfumado
A minha santa histeria
Minha sagrada alegria
Voando na contra-mão do destino que rabisquei a lápis
E sou feita ainda de tantas perguntas.
Um rascunho num pedaço de papel de pão
Paixões bordadas num embornal
E se quase nada respondo é que aprendo a ouvir
Com olhos, tato e coração
A minha santa não é casta, é vasta
E o meu amor é um féretro com tulipas
Dos sonhos em sepulcro
Das flores que enfeitam calvários
E de repente, me invadem ondinas
A luz da lua que revigora as meninas
E passo a pular amarelinha
A fazer com miçangas pulseirinhas
E visito as Igrejas, acendo incensos
E comungo, resmungo, excomungo
Essa parte é pública
A timidez é notória
Sou uma com certa dúvida
E várias com mil histórias
Não quero meus versos em molduras
Quero-os nas bocas das mais vis criaturas
Quero-os férteis, clandestinos e cretinos
No requebro das moças, no assobio dos meninos
Quero-os ponte pro que não me tangencia
Luz da lua e estrela guia
Quero parir poesia
Dançar com sílfides e gnomos
Despir-me à lua cheia numa rede
Cobrir-me de ostras
Virar mosaico
Quero-me divida em letras e cacos
Dispersos ao vento que sopra do cais
Para que quando me encontrares
Não haver nem sobras
De tantas esperas, rodilhas e quimeras.

Alyne Costa
Brumado, 14 de abril de 2007

Um comentário:

Leila Andrade disse...

Alyne,
a vida este caminho tortuoso e surpreendente.
Obrigada pela visita e pelas palavras no Palavra e Destino. Fico feliz por poder compartilhar com você o espaço poético do Baratos Afins.
Beijos