6.11.06

Eles


Cada tempo um elemento
Cantor noturno, soturno
Secundarista, de coturno
Mestrando em ciência exata
Físico de conotação abstrata
Bacharel ao léu
Músico do beleléu
Um míope, um agiota
Um cínico, um idiota
Um gemido, outro contraído
Um grito, outro doído
Um breve, um reticente...
Um louco, um demente...
Um rápido, outro ligeiro
Um maio, outro ano inteiro
Um mauricinho, um à toa
Um bem menino, um coroa
Um clandestino, outro miragem
Um peregrino, outro paisagem
Um muito gato, um nem tanto assim
Um apaixonado, um apenas a fim
Todos eles: Na minha mão....
Eu na deles: um alçapão.


Alyne Costa
Brumado, 7 de novembro de 2006

16.9.06

Queda D'água












Queria ser rio, profundo...
Fazer meandros por seus segredos
Ser sempre novo e perene...
Lavando na correnteza seus medos
Correr enquanto o tempo esgota
As rupturar de uma alma febril
Queria ser foz, ilha ou fonte...
E nos mirantes do meu peito aflito
Rabiscar teu nome na areia do infinito
Queria até ser chuva
Lavando tuas costas nuas
Coxas duras, fronte, becos e ruas
Mas a vida fez-me queda d'água
Explodindo em fé...
Acariciando os rochedos das dúvidas
Arrancando os galhos do que não me pertence
De tudo que não sinto...
E depois, talvez, açude ou bacia...
Represa de tanto sentir.


Alyne Costa
Brumado, 13 de setembro de 2006

Foto: Cachoeira do Fraga- Rio de Contas, by Alyne Costa

8.9.06

De Um Certo Entendedor


Mafra e suas aplicações na bolsa de valores-By: Alyne Costa


Não é que eu não entenda esta dorzinha que habita meu peito nas horas
de ir embora...
Entendo também esse dialeto de esperança que falo a cada romper de aurora.
Este zigzag dos dias... Nem todos belos, nem todos castelos.
Entendo um pouco da beleza dos Cânticos e das ladainhas a Nossa Senhora.
Entendo porque padre não casa.
Porque mulher quer filho.
Porque filho quer pai.
Porque pai quer namorada.
E porque namorada quer casar.
Entendo, até com certa maestria, porque alguns destinos tornam-se saudades.
Um pouco de alguns estatutos, de corte e costura e certos passos de ballet.
Sei de rezas pra benzer quebranto.
Minha mão pra planta é uma beleza...
Nadar mesmo, só cachorrinho.
Entendo de ouvir as pessoas, de ser engraçada e de contar mentiras.
Entendo algumas coisas por graça sua, outras por esforço e a maioria por ter olhos de ver.
O que não entendo, meu Deus, é a fragilidade das coisas deste mundo.

Alyne Costa
Salvador, setembro de 2006

28.8.06

Gaiola


Ainda não sei a cor do caminho, mas vou...
Sem pressa, sem medo, sem pacote
E se ele estiver em flor, eu abro um sol
E se estiver nublado, aparo a queda
Eu vou ali comprar um batom
Tirar uma medida
Tomar uma média
E se ele for setembro, eu fevereiro
E se ele chorar, rabisco a lua
E se ele não for?
Eu nem metade
E se ele não aparecer?
Eu, sim, saudade...
E se ele for Caetano, eu canto o Tom
E se for amanhã?
Eu Djavan...
E se não for bem assim?
E se não for urgente?
E se não for prece?
Eu oração....
Eu busco um guia, carrinho de mão...
E se era pra ontem?
Eu já nem sei.
E se acabou?
Precipitei.
E se ele for saturno?
Eu sou de lua...
E se ele nem souber?
Porra, que intua!
E se desistiu?
Não leu os sinais?
Eu corro atrás.
E se for de mármore?
Eu, astronave.
E se voou?
Um novo amor.

Alyne Costa
Brumado, 28 de Agosto de 2006

21.8.06

Insone


Hoje a noite eu não estou conseguindo dormir...
Não é tristeza, nem alegria, nem gripe e tampouco alergia.
Hoje a noite eu fritei na cama, bebi água, deitei na cama.
Bebi água de novo, fritei um ovo.
Hoje a noite eu não estou conseguindo dormir.
Não ouvi música, quase não fumei...
Não brinquei no dicionário.
Não li poesia
Hoje eu perdi o sono, perdi como se perde uma vaga lembrança.
Perdi o sono de tanta esperança.


Alyne Costa
Brumado, agosto de 2006

16.8.06

Quintanista


Ando Quintanista de carteirinha...
Preenchendo de poesia as obviedades da vida!
Vendo poesia nos anúncios de farmácia.
Se me lêem, pois bem...
Se não o fazem, que há de mal?
Mas que escrevam...
Soltem as amarras de suas almas em versos.
A poesia é um antidepressivo sem efeitos colaterais.
E assim... Sinto-me inundada de silêncio.
Lanço olhares profundos ao mundo.
Esta minha alma-gêmea atrasada!
Que faço eu?
Faço versos, oras...
Não posso fazer mais nada.

Alyne Costa
Ssa, 26 de outubro de 2002

15.8.06

Cidade Primavera


Estou numa estrada sem horizonte a frente
Eu sinto faltar asfalto e chão
E meus sapatos dançam nos meus pés
Uma canção de jardim de infância

Preciso de um pouco de sal
Eu sinto falta de pressão
E minha janela não tem vista pro mar...
Tenho apenas vista pra escuridão

Estou numa estrada num velho Opala sem rodas
Meu desejo foi abortado pelos sapos e pelas rãs
Mas eu me sinto inocente e feliz
Eu tenho desejo de algodão-doce

Preciso salvar a vida do meu amigo
Ele é alguém que merece o amor
Ele pensa em ser biólogo e desenha a vida
Eu acredito na forma dele amar

Estou numa estrada pra algum lugar distante
Eu vi a face do sadismo e fiquei feliz
Que bom que nunca consegui ser assim
Eu nunca joguei flexas ao acaso
Eu nunca despedacei corações
Eu nunca vi alguém chorar por mim

Estou numa estrada e levo um menino
Eu estarei forte pra lhe dar abrigo
Eu lhe ensinarei os sinais de um verdadeiro amigo
E só a ele renderei meu amor

Estou numa estrada com chuvas e nuvens violetas
Eu vejo o sol se por no fim das mentiras
Eu vejo as montanhas aparecerem escondendo a hipocrisia
Meu retrovisor traz pintado um escudo

Eu ouço no rádio do carro a voz de um amigo ao telefone, ele está feliz!
Ele antes era mudo porque temia ferir
Ele ligou de cartão e isto é prova de amor.

Eu vejo que é possível percorrer a estrada...
Eu, a criança e o caminho que sonharmos juntos.
Eu vejo que esta estrada em si é um paraiso
E a criança ri de andarmos sem rodas

Estou na estrada e avisto cavalos
Eu vejo belas mulheres nuas sobre os cavalos
E vejo Você, ensandecido, derrubando cavalo por cavalo em sua motocicleta.
E saciando sua sede nas lindas mulheres nuas.

Estou numa estrada e limpo a poeira que cegava
As suas mulheres todas desapareceram
Restou a poeira cobrindo seus olhos
Você me deixou passar e não viu...
Que em cada uma daquelas mulheres havia Eu!

Estou numa estrada e vejo um viaduto
O menino sorri do arco-íris no céu
Reapareceram o asfalto e a sinalização
Vemos a placa: Bem Vindos à Realidade

Estou chegando numa nova cidade
Bem podia ser na Dinamarca porque sinto que há algo de podre no ar...
Mas o que é podre deteriora...

Estou chegando numa nova cidade e é noite
Está cheia de luzes de inspiração,
Cidade Primavera, Cidade esperança, Cidade Gratidão
O menino pede pra comprar doce de leite
E uma velha senhora me oferece margaridas.
Eu lamento, ma ainda não temos dinheiro
Ela apenas ri sem dentes: Estamos numa nova estação.


Alyne Costa
Salvador, setembro de 2002

A Lágrima, o Espelho e Eu


Ainda não deu tempo de ter saudade
Ainda não deu tempo de parar pra pensar
De doer tudo que há pra doer
De chorar quando o leite todo já derramou
Fostes como chegastes: Sem certeza alguma
E assim sem pressa... Sem muita explicação
Restaram-me a lágrima e o fosso da tua ausência
Estou como esta lágrima que rola na face sem timidez
Que cai do meu rosto na rua, em plena multidão
Estou como o lixo escondido embaixo do tapete
Ainda não deu tempo de abrir o gás
Ainda não deu tempo de limpar a casa
De ir embora pra onde der pra ir
De olhar pro lado e ver um riso novo
Sempre fostes metade! Parte tua vagava pelo abismo dos medos
E assim sem pressa... Sem entrega plena...
Restaram-me a lágrima e a cadeia da minha própria liberdade
Estou nas grades sem querer sair
Sem forças ainda pra andar pelas novas estradas acima das montanhas
Restaram-me a lágrima o espelho e eu
Eu... Buscando compreender o que ainda sou
Eu... Buscando dimensionar o que posso ser
Eu... Buscando aprender com o que fui um dia
Restaram-me a lágrima, o espelho e Eu!

Alyne Costa
Salvador, agosto de 2002

Gente Sem Dente


“Gente sem dente
Vivendo contente
Fazendo repente”*
Gente que sente
Vive diferente
Todo mundo contente
Sem o dente da frente!
Gente que sabe viver inocente
Pula na roda da vida gente
Gente que encanta e males espanta da porta da frente.
Desenha um sol poente
Um mundo envolvente
Um sonho crescente
Gente que pinta sorriso na boca da gente sem dente!

Alyne e Hélio Filho
começo de 2001

Aquela Janela


Aquela janela pra vida mais uma ferida cicatriza.
Batemos bem forte nas portas, enquanto de portas abertas, a vida nos espera.
Que o convite ao prazer é a arte de ser paciente.
Esperar sem murchar o sorriso.
Porque a alegria nunca morre.
E é preciso saber sorrir.
Porque a alegria é expressão facial da vida.
E a vida passa pela fresta da porta e nunca está no fim do corredor.
Enquanto meus poros se exaltavam em vão e quantas vezes dilatei a aorta, esquecida que já aberta estava a porta.
Aquela janela pra vida era o meu coração.

Para Alan Andrade, 14/07/92

Labirinto


Fiz teu o reverso do meu verso.
Te fiz cantiga e fecundei teu tom.
E, dissonante, onde te julguei jasmim.
Incensei meu corpo, fada...
Suave aroma de alecrim.
Mas meu cansaço ante a indiferença.
Da melodia sem poder voar
De quem puxa a corda e não deseja o mar.
Tornou-me chaga dessa dor, enfim.
Semeei no asfalto gotas de esperança.
Soltei meus sonhos.
Valsei na contradança.
E sopro de vida de mim saiu.
Que a noite, quando há lua, me conduz a labirintos.
Onde me embebedo só pôr ser luar.
Que toda mulher é também satélite.
E a cada eclipse que me refletiu,
Guardo no peito o girassol aflito,
De um bem-me-quer que não se permitiu.


14/07/92

Sua Ausência


Sua ausência me traz vazios
Me queimo em cinzas
Ardo em calafrios
Sua ausência dura mais que um dia
Acendo incensos, velas
Zelo as horas em agonia
Sua ausência me preenche e me faz oca
E, nua no armário, abro um guarda-chuva
Sua ausência me corrói e me faz louca
E queimo vestidos num ferro de passar
Sua ausência me traz bebedeiras e transes
E me rouba qualquer verossimilhança
Sua ausência me traz suores noturnos
Me faz dar flores aos porteiros
Me faz ligar pro auxílio-suicídio
Me faz criar códigos e romper leis
Sua ausência me faz atrasar as contas
Me traz analogias entre Duchamp e Forest Gump
Sua ausência é cirurgia sem anestesia
Eutanásia de amor
Desperdício de licor
Sua ausência me faz reler Camões
Me torna histérica e inconstante
Sua ausência é uma droga barata
Posto que aprendi e não sei mais errar
Essa vida que é dobra de tua alma
Estrada sem luz pra um inverno: Amar.

Alyne Costa
Salvador,março de 2005

13.8.06

Tez


Quisera eu ter encontrado tua certeza.
A estrada da realeza em teu amor.
Que horror, meu Deus, é nua tua beleza.
Crua e louca, um estupor.
Quisera eu inventar um sinônimo pra mucosa.
Pôr no poema a transcendência de quem goza.
Mas a proeza de tua tez morena.
Não cabe na brevidade do mais belo poema.

Alyne Costa, 1989

Parto da Poesia




Quando a poesia quer nascer...
Quantas páginas de papel se rasga?
É que a alma do poeta é feita de retalhos.
Da multidão que ele carrega.
Quando a poesia quer emergir...
Quantas folhas do caderno se arranca?
É que o poeta é um monte de farrapos, feito das várias
emendas que o tempo cria e destrói.
Quando a poesia quer nascer, ela invade, viola o poeta.
Seca a lágrima que quer cair.
Emudece o riso que quer implodir.
Turva os olhos.
Seca a garganta.
Desmente a palavra santa.
Nasce e pronto!
E eis o poeta sentindo a dor do parto...
As contrações.
Quando a poesia nasce, não tem resguardo.
Poesia não tem quarentena.
Não tem dissabor que emudeça o poeta.
Não há mordaça que cale seu canto.
Nem desespero que esterelize seu encanto.
Basta esta lua nua e solta no céu.
Cheia das fases que Deus lhe deu.
Basta qualquer lembrança vaga na mente.
Qualquer dessabor lembrado de repente.
Basta esta lua apenas, mirada entre as grades.
Repleta da luz que Deus lhe deu.
Quando a poesia invade o poeta.
Basta qualquer coisa grávida.
E a poesia nasceu.

Alyne Costa
Salvador, fevereiro de 2003

13.3.06

O Amor Sem Bordas

E eu aprendi a amar um amor sem bordas. E tenho a sensação estranha de que eu não deva desistir. Absurdo ver o amor derramando numa imensa vontade de ser una. Una com essa manhã cinza de um frio fora de tempo. Una com essa vontade de ter a pele dele. ( O absurdo é tão somente o que não aceita um desafio? É apenas aceitar a regra imposta? Como se o dito fosse um rito... O absurdo é não poder mais amar; ) Una com uma vivência mais natural. Una com toda a natureza, com a paz e com a autenticidade de reagir. ( Mas ele é apenas um menino de 21 anos que eu aprendi a amar loucamente, amar cada suspiro dele e cada minuto dessa ausência insana. ).
Não há coerência na paixão. Eis sua razão de ser. Mas no amor tudo é coerência, tudo é de uma harmonia sublime. O amor sem bordas sabe não ter rumo certo, sua coerência está na imprecisão, mas ainda assim ele é fértil, manso, quase caipira. E de tão frágil e ao mesmo tempo intenso, vai construindo teias. Relendo antigos versos. Ouvindo as canções mais tolas. Tecendo o fio da vida como um processador de novas formas de viver. O amor sem bordas não teme. Não tem muita razão, pois não é mesmo pra ter. É essencialmente uma explosão de ser. E de repente o dia amanheceu.
Caminha pelos cantos, sobe pelas paredes, chora de saudade e emudece. Dias e dias vazios. É amor de quem amadureceu e não perdeu a inocência. De quem morre se perdê-la. Porque pressuposto básico do amor sem bordas é não esperar nada em troca, mas esperar... Esperar... O amor sem bordas não tem pressa alguma. Quer estar junto sem invadir, dividir. Ouve as canções da infância. Invade a casa do vizinho, toma um café. Está na sala de aula. Morre de rir. Estoura a espinha da terra. Quebra o espelho. Amaldiçoa e se arrepende. O amor sem bordas é eternamente adolescente e quase ancião de tão sábio. ( E, de repente: Ele não tem nada a ver comigo. Somos de mundos diferentes. Ai, que coisa mais paradoxal. As vezes ele está tão estranho. Hoje mesmo ele entrou e nem falou comigo. Zorra, nem gravou o número novo do meu telefone. Também... Quando ele nasceu eu já sabia ler... Ah, ele ainda é um menino de 21 anos. )
Mas o amor sem bordas é dissimulado... Fala que ama, mas não diz. Faz parte de sua magia querer ser lido nas entrelinhas. E inaugura então o idioma do sorriso. O amor sem bordas diz “eu te amo” quando ri. Então para entender o amor sem bordas alguém terá que saber ler sorrisos? Não, você pode também não entender. Ele não faz a mínima questão de ser entendido. Ele é poliglota! Fala em tatibitate também. Não que ele não tenha seu orgulho, tem sim, ora, sendo sua razão amar, o amor sem bordas quer ser reconhecido sim, ter seus minutos de fama no brilho do olhar de quem o captou.
É como um golfinho. Belo e escorregadio. Muito engraçado e adora criança. Mas esconde uma certa tristeza sim... Lá num cantinho da alma de quem ama o amor sem bordas há uma tristeza distraída ( e que fique assim por muito tempo! ) E, de repente, a gente se percebe mais paciente e calmo. Mais assíduo. Mais responsável. Bem mais cidadão. A gente se percebe mais inteiro. Feliz como golfinho e não como gente.
O amor sem bordas embora ressoe em todo coração que encontre, é egoísta, ama primeiro a si mesmo. O amor sem bordas sabe que é a única forma de amar, mesmo assim, deixa os meninos brincarem dizendo que amam; é tão bonito ouvir falar de amor... Mas eu ainda não me declarei ( ou já? ). Isto não faz nenhuma diferença. Não vou deixar de amar.
O amor sem bordas morre de medo de dar certo. Ele sabe que é correspondido, só não quer admitir. Tão simplesinho. E vai assim... Passando dias e dias. O amor sem bordas não quer nunca acabar. ( Eu adoro o jeito dele falar, amo cada monossílabo, cada respiração...) Quem pode imaginar o quantum do amor sem bordas? Quase uma heresia...
O amor sem bordas acredita no poder da palavra. É como um senhor alto, magro, de chapéu e um bocado de idealismo, sempre com uma frase gentil... O amor sem bordas é a cara de Gentileza! É também um adolescente de boné que rabisca versos no caderno que jamais teve coragem de mostrar para a menina de óculos ocultando os olhos, agasalho escondendo o corpo e tantos outros versos que jamais teve coragem de mostrar para o adolescente de boné.
O amor sem bordas ama sem olhar para os lados, pois não se importa de ser visto, embora a miopia reinante lhe permita certa clandestinidade. O amor sem bordas fala palavras obscenas. Ele desconhece tabus.
Não que seja vanguardista. De fato, é um conservador. Estabelece uma nova ordem para sempre insubstituível: Amar sem bordas. Daí emana seu aspecto revolucionário... Nada será como foi. ( Mas eu preciso levantar agora.... Lá fora cai uma chuva forte e tão escuro está o céu, que eu quero ver a chuva, costurar no tempo, imaginando como seria ele aos dez anos de idade chateado por uma chuva como esta lhe impedir de ir jogar futebol. E dormir um bom pedaço do dia também.

Alyne Roberta Neves Costa
Salvador, 16 de março de 2001

Arte extraída do site http://www.mozartguerra.com/WorkPage.asp?work_id=26&lang=En

12.1.06

Eu dou Bandeira


Bandeira, Bandeira...
Se te descubro, adolescente, os versos...
Viveria-os, sorrateira, a vida inteira!

Pirracinha Romântica


Não era platônico porque já declarado
Era amor pirracento...
Peçonhento
Di tipo que ria de si mesmo
Por si vencido e aturdido
Era quase uma idéia fixa
Era um amor clandestino
De remorso entrelaçado
Tipo de amor que amo só por teimosia
Como o de Beu Machado a Lygia Cabus
E eu mesma nem sei se foi mesmo amor
Amei assim: De graça
Só pela Graça

Via Air


CORREIOS
CORRE@@@
COR@@@@@
CORE@@@@
~~~R~IOS

Vôo de Borboleta


Na pequenina rua
Uma borboleta voa
Vidinha leve e à toa
No céu já surge a lua
e a borboleta voa
Como rainha sem coroa
Vai soberana bailando pela tarde que cai
Vai, sem par, costurando voltinhas
Se confundindo entre as flores subalternas
-Tadinhas, não podem voar.
E vai voando seu reinado azul
Antes que a noite a devore
Como a morte devora qualquer palavra.

10.1.06

Das Tantas Mulheres Que Sou


Queria ser já velhinha - olhos miúdos - a fazer renda...
Ser a filha de santo, de branco e patuá - levar oferendas a Iemanjá.
Ser a menina sapeca, com fivelas e sardas e fazer cobras com massa de modelar ... Que a vida é arte, de crescer e criar.
Queria ser perua maquiada, e no alto de um salto me embebedar de perfume e tornar-me fada.
Ser travesti - dourada em punhal e purpurina - que a vida não traz falhas e é feita de muitas esquinas.
Ser vendedora ambulante de sombrinhas, miçangas e loção cicatrizante. Que a vida, vez por outra, é uma pausa no ballet do imprevisto.
Queria ser carola que ora e buscar num cálice o sabor da fé.
Ser meretriz nos arredores das docas. Me vestir e despir pra três amores: o estivador, o capitão e o mar.
E das tantas e tontas que sou, por vezes me arrebento.
Sou desejo e sou lamento.
Mas das tantas mulheres que sou, todas elas estrelas em movimento.
Delas me nutro.
Outras me invento.

Vamos Brincar de Circo


Vamos brincar de deixar a felicidade nos visitar
DE vez em quando vamos brincar de amar
Estreiar o sabor de coisas que eu nunca fiz
Fazer magia com flores
Brincar de ser lua, ser vento, ser atriz
Vamos deixar rolar as lagrimas de nossa inseguranca
De vez em quando voltar a ser crianca
Vamos fazer de conta que tudo ja passou
E que num instante o ato recomecou
Vamos brincar de circo
Palhaco, bailarina no escuro, vela acesa
Vamos abrir mao de qualquer certeza
Tomar banho nus numa represa
Vamos soltar os cabelos pela escada
Vamos dar uma grande mancada
Nos deixarmos cair em qualquer cilada
Vamos sepultar nosso lamento
Atras da serra, na curva do vento
Vamos nos vestir de saudade
Vamos inventar a felicidade!

Para Daniel Caribé

6.1.06

BR 116



Sentaremos na boca da noite
Acenderemos faróis
Ligaremos alarmes, sirenes
Escoaremos por entre os dedos da vida
A alma em chamas, lanceada, ferida
E então olharemos os passos tristes
Que demos ao longo do caminho
Que antes de ser, todo ser é sozinho
E antes de sermos...
E depois de vermos...
Caídos rotos no alçapão do destino
Cada um é o sonho que teve menino
E em que cofre estará guardado o Amor?
Como o ser pode ser sem...
Amores vendidos
Amores partidos
Amores malditos, na boca de alguém.
E quase sempre assim...
Sigo sendo...
O que sou.
O que for.
O que sobrou de mim.

Para Rodrigo Chagas (Bubute)