15.8.06

Cidade Primavera


Estou numa estrada sem horizonte a frente
Eu sinto faltar asfalto e chão
E meus sapatos dançam nos meus pés
Uma canção de jardim de infância

Preciso de um pouco de sal
Eu sinto falta de pressão
E minha janela não tem vista pro mar...
Tenho apenas vista pra escuridão

Estou numa estrada num velho Opala sem rodas
Meu desejo foi abortado pelos sapos e pelas rãs
Mas eu me sinto inocente e feliz
Eu tenho desejo de algodão-doce

Preciso salvar a vida do meu amigo
Ele é alguém que merece o amor
Ele pensa em ser biólogo e desenha a vida
Eu acredito na forma dele amar

Estou numa estrada pra algum lugar distante
Eu vi a face do sadismo e fiquei feliz
Que bom que nunca consegui ser assim
Eu nunca joguei flexas ao acaso
Eu nunca despedacei corações
Eu nunca vi alguém chorar por mim

Estou numa estrada e levo um menino
Eu estarei forte pra lhe dar abrigo
Eu lhe ensinarei os sinais de um verdadeiro amigo
E só a ele renderei meu amor

Estou numa estrada com chuvas e nuvens violetas
Eu vejo o sol se por no fim das mentiras
Eu vejo as montanhas aparecerem escondendo a hipocrisia
Meu retrovisor traz pintado um escudo

Eu ouço no rádio do carro a voz de um amigo ao telefone, ele está feliz!
Ele antes era mudo porque temia ferir
Ele ligou de cartão e isto é prova de amor.

Eu vejo que é possível percorrer a estrada...
Eu, a criança e o caminho que sonharmos juntos.
Eu vejo que esta estrada em si é um paraiso
E a criança ri de andarmos sem rodas

Estou na estrada e avisto cavalos
Eu vejo belas mulheres nuas sobre os cavalos
E vejo Você, ensandecido, derrubando cavalo por cavalo em sua motocicleta.
E saciando sua sede nas lindas mulheres nuas.

Estou numa estrada e limpo a poeira que cegava
As suas mulheres todas desapareceram
Restou a poeira cobrindo seus olhos
Você me deixou passar e não viu...
Que em cada uma daquelas mulheres havia Eu!

Estou numa estrada e vejo um viaduto
O menino sorri do arco-íris no céu
Reapareceram o asfalto e a sinalização
Vemos a placa: Bem Vindos à Realidade

Estou chegando numa nova cidade
Bem podia ser na Dinamarca porque sinto que há algo de podre no ar...
Mas o que é podre deteriora...

Estou chegando numa nova cidade e é noite
Está cheia de luzes de inspiração,
Cidade Primavera, Cidade esperança, Cidade Gratidão
O menino pede pra comprar doce de leite
E uma velha senhora me oferece margaridas.
Eu lamento, ma ainda não temos dinheiro
Ela apenas ri sem dentes: Estamos numa nova estação.


Alyne Costa
Salvador, setembro de 2002

Nenhum comentário: