13.8.06

Parto da Poesia




Quando a poesia quer nascer...
Quantas páginas de papel se rasga?
É que a alma do poeta é feita de retalhos.
Da multidão que ele carrega.
Quando a poesia quer emergir...
Quantas folhas do caderno se arranca?
É que o poeta é um monte de farrapos, feito das várias
emendas que o tempo cria e destrói.
Quando a poesia quer nascer, ela invade, viola o poeta.
Seca a lágrima que quer cair.
Emudece o riso que quer implodir.
Turva os olhos.
Seca a garganta.
Desmente a palavra santa.
Nasce e pronto!
E eis o poeta sentindo a dor do parto...
As contrações.
Quando a poesia nasce, não tem resguardo.
Poesia não tem quarentena.
Não tem dissabor que emudeça o poeta.
Não há mordaça que cale seu canto.
Nem desespero que esterelize seu encanto.
Basta esta lua nua e solta no céu.
Cheia das fases que Deus lhe deu.
Basta qualquer lembrança vaga na mente.
Qualquer dessabor lembrado de repente.
Basta esta lua apenas, mirada entre as grades.
Repleta da luz que Deus lhe deu.
Quando a poesia invade o poeta.
Basta qualquer coisa grávida.
E a poesia nasceu.

Alyne Costa
Salvador, fevereiro de 2003

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, adorei esse poema, de verdade, consegui me lembrar a dificuldade em se fazer uma poesia assim como a dor do parto, mas ao mesmo tempo a questão de "não ter volta" quando chega a hora de acontecer (inspiração) que algo realmente verdadeiro e poético acontece. Me inspirou bastante. Parabéns e obrigado. Rê.